O Porco
Eu tenho mais um caso da vó Cecília p/ contar:
Na época em que moramos em Sorocaba entre fins de 39 a meados de 42, a minha mãe p/ ajudar seu avô nas despesas da casa, comprava um porco de bom tamanho e depois contratava um “matador” pois o bicho vinha vivo. Nós morávamos numa chácara que foi a delícia dos meus 8 , 9 anos, trepada em jabuticabeiras e mangueiras e outras coisas, enfim essas coisas se der eu conto depois. Mas vamos ao porco. Lá vinha o homem e preparava o patíbulo do sacrifício do bicho que nós alvoroçados assistíamos interessadíssimos naquilo que ele ia fazer.(o homem gosta de sangue desde pequeno, né?) Depois amarrava o porco em cima dele e com uma facada certeira liquidava com o bicho numa vez só.
Certa vez sua avó comprou um porco enorme de mais de 100 kls. e contratou de novo o matador e de novo nos preparamos para assistir a mais um espetáculo.
Pois o mesmo foi amarrado aos guinchos e esperneando feito louco mas enfim dominado. Esse homem deu mais de 40 facadas no porco e o mesmo guinchando, não morria. Todo mundo já estava ficando incomodado com a falta de destreza do profissional. Enfim o porco se aquietou e como vcs. já devem saber a água fervendo foi espejada em cima dele para retirar a pele. Pois não é que o porco ainda deu uma última estremecida, alarmando todo o mundo? Ao ser esquartejado, verificou-se no seu coração quase todas as facadas que ele havia levado. Ficou registrado como caso único na estória de matança de animais, nunca visto.
Pois bem, entre outras tantas coisas que sua avó fazia (como goiabada, já nesse tempo) ela fazia lingüiça para vender. As tripas eram lavadas e colocadas para secar. Eram separados os pedaços pobres do porco e o resto era passado na máquina de moer carne, temperada e depois as tripas eram preenchidas com ela. Eram muito apreciadas pelas pessoas que compravam. As carnes nobres (não havia geladeira nessa época) eram enterradas na gordura do porco que já tinha sido derretida. Gostaram?
Eu nunca mais esqueci esse fato e até hoje não me conformo com essas
barbaridades.
Tia Anna
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